11/02/2016 Um dos mais relevantes cozinheiros da França, Paul Bocuse, comemora 90 anos nesta quinta-feira (11) com uma robusta biografia empreendedora que lhe rendeu o título de melhor chef do século 20.
Há mais de cinco décadas ostentando estrelas do guia "Michelin" –a tradicional publicação que elege os melhores restaurantes e hotéis mundo–, Bocuse é um dos criadores da "nouvelle cuisine", movimento que revolucionou a gastronomia francesa pregando leveza aos pratos.
São inúmeras as suas receitas célebres –a mais famosa delas é a sopa de trufas negras–, mas extraordinária, de fato, é a contribuição de Bocuse à gastronomia, através da defesa da simplicidade e da seleção de produtos de qualidade.
"Tenho três estrelas, tive três 'by-pass' e sempre tive três mulheres", resumia ao jornal "Libération" Bocuse, que em 1946 se casou com Raymonde Duvert, 20 anos depois conheceu Raymone Carlut e aos 70 anos se uniu a Patricia Zizza, que administra sua carreira.
Ele almoça com uma, toma o chá com outra e na hora do jantar está com a terceira, dizem os amigos íntimos de Bocuse, que nasceu em 1926 às margens do Rio Saône, no pequeno município de Collonges-au-Mont-d'Or, no leste da França.
Foi nessa região, próxima a Lyon, onde ele começou a se aproximar da gastronomia, no restaurante da família, que dava continuidade a uma linhagem de cozinheiros que remonta a 1765. É lá também que agora está o principal dos 23 restaurantes que ele tem espalhados por França, Suíça, Estados Unidos e Japão.
Aos 15 anos, Bocuse se tornou aprendiz de Claude Maret. Em 1944, quando chegou à maioridade, se alistou nas Forças Francesas Livres para combater na Alemanha nazista, época em que ganhou a tatuagem que leva no braço esquerdo com a imagem de um galo, feita pelos soldados americanos que lhe atenderam após um ferimento.
Depois da guerra, o jovem Bocuse continuou sua formação e fez amizade com os irmãos-cozinheiros Troisgros e se colocou à disposição de Fernand Point, que ele considera seu "mentor" e para quem dedicou seus excelentes caranguejos de rio gratinados.
Em 1958, abriu seu próprio restaurante, recuperando o L'Auberge du Pont, a loja da família, e que foi rebatizado com seu próprio nome. Em 1965, recebeu a terceira das estrelas, que nunca lhe abandonaram.
Mas o auge de sua carreira veio no início da década de 1970, com a "nouvelle cuisine".
Bocuse consolidou o movimento ao lançar um livro de receitas baseadas nos preceitos dessa inovadora forma de cozinhar, que prioriza ingredientes frescos, molhos leves e dá especial atenção à apresentação.
Esse movimento representou também a consagração dos cozinheiros como estrelas midiáticas, circunstância que Bocuse aproveitou com habilidade: recebeu a comenda da Legião de Honra, em 1975, desembarcou no Japão, em 1979, e criou o Bocuse d'Or (1987), prestigiada competição na qual, a cada dois anos, 24 grandes cozinheiros concorrem.
Em 1990, fundou o Instituto Paul Bocuse, um dos templos de aprendizagem da profissão, com sede em Lyon.
A saúde do chef que inspirou a animação "Ratatouille" (2007) –que sofre de parkinson–, vem fraquejando, mas ele não perdeu o bom humor. Em 2014, por exemplo, se submeteu a uma complicada cirurgia e, ao se recuperar, disse a sua esposa: "Querida, fui bem-sucedido na vida, mas fracassei na morte".
"A vida é uma piada. Portanto, é preciso trabalhar como se fôssemos morrer com cem anos e viver como se fôssemos morrer amanhã", disse certa vez o chef. Fonte: Folha de S.Paulo.
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