‘Clímax’ traz o autor e diretor em cena, como um amante da literatura policial
14/01/13 - Aos 76 anos, Domingos Oliveira acaba de inventar um alter ego sob medida para tratar de temas e questões inéditos em sua trajetória artística. Com estreia prevista para sábado, no Teatro Gláucio Gill, a peça “Clímax” traz o autor e diretor em cena, como um amante da literatura policial diagnosticado com o Mal de Parkinson, mas que se deixa absorver apenas pelo prazer dos mistérios e por sua livre e irrequieta imaginação — mais próximo de Domingos, impossível. Inquieto e eternamente apaixonado por seus novos planos, ele trabalha para lançar dois filmes e está prestes a filmar com Fernanda Montenegro a peça “Do fundo do lado escuro”. Além disso, nos próximos meses cuida da programação do Gláucio Gill, que terá solos de Aderbal Freire-Filho, Maria Mariana, Sara Antunes e um stand up do ator Matheus Souza, seu pupilo na “vida real” e principal algoz nesta nova montagem teatral.
O que o levou a escrever esta peça?
Queria falar das vivências de um homem mais velho. A finitude e as limitações da vida, a dor e o medo. O medo da morte e como a ideia de estar ligeiramente convidado a acabar altera sua visão do mundo. Mas, principalmente, eu queria falar sobre o Parkinson. Tenho a doença há 14 anos.
E nunca falou sobre...
Não faço alarde porque não tremo, é uma doença que não mata e não altera a minha produtividade. Mas queria abordá-la porque é curiosíssima e tem as mesmas características do medo. Assim como ele, ela nos paralisa. No Parkinson você envia uma ordem ao músculo, mas ela se atrasa e, às vezes, não chega. O cérebro deixa de produzir um hormônio que a transmite, então você ordena e nota, decepcionado e humilhado, que não é mais obedecido.
Por que o teatro para tratar dela? Qual foi sua preocupação ao transpor para a cena algo tão pessoal?
Eu tinha um diário que parecia um monólogo, mas daria numa peça sobre a doença, que afastaria as pessoas. Tenho horror a autopiedade, não me queixo. Se perguntar se está tudo bem, digo que sim, e com sinceridade, porque sei que eu poderia estar muito pior. Mas não me vejo como guerreiro, e sim um funcionário da vida, que trabalha no departamento de propaganda. Estar do lado da vida ou da morte é uma questão de opção. Assim como time de futebol. É preciso saber em qual arquibancada sentar, e se o seu time estiver perdendo o campeonato não é isso que vai fazer você deixar de torcer. Então, a adesão à vida é incondicional.
Como fez para driblar o solo sobre a doença e como ela está inserida nessa nova dramaturgia?
Num dia me desceu com força uma história policial, que sempre gostei de ler, mas não se vê no teatro. Imaginei um detetive de cadeira de rodas que tivesse Parkinson, para que eu pudesse fazer. Me pareceu engraçado, e aí me veio o antagonista, um jovem ágil, na melhor fase da vida, no auge da potência, um contraponto. É um duelo entre o bem e o mal. Velho tema. Que recursos pode ter um velho entrevado contra um jovem sadio e potente? Mas ele os tem, intelectuais e espirituais. É uma ótima história, daria um puta filme. (segue…) Fonte: Globo G1.
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