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O Muhammed Ali, lenda
do jiu-jitsu brasileiro, fala sobre seu último oponente - a doença
de Parkinson - e por que ele se recusa a desistir
Rickson Gracie em
setembro. “Eu represento uma arte”, diz Gracie. “Eu represento
um estilo de vida. Eu represento uma família. É maior que a minha
vida.”
O MAIOR lutador de
JIU-JITSU BRASILEIRO do mundo está querendo lutar comigo.
“Levante as mãos”,
diz Rickson Gracie enquanto avança. “Como se você estivesse
falando como um italiano.”
Eu levanto minhas mãos
enquanto ele avança em direção à minha cabeça.
“Não me deixe tocar
seu rosto.”
Gracie – a lenda de
63 anos com cabelo raspado e pele bronzeada – está vestindo short
cinza e camiseta preta. Ele é musculoso e compacto. Sou mais alto,
mas é só isso. Ele pode me sufocar até ficar inconsciente com
pouco ou nenhum esforço. Suas mãos disparam, mas eu as guio usando
alavancagem e seu próprio impulso, imitando as técnicas que ele me
mostrou segundos antes. Há uma intensidade na maneira como ele me
orienta nos movimentos: como deslocar meu peso para enfrentar a
ameaça – às vezes com o pé da frente, às vezes com o pé de
trás – mas sempre em equilíbrio. Seus olhos castanhos são
ferozes e intimidadores – ele está focado em cada movimento e
reação minha. Quando você faz algo certo, você obtém um
“Simmmmm” satisfeito e alongado. Cometa um erro e será um “Não”
contundente.
Quando ele coloca as
mãos em você, seu aperto é firme. Sua linguagem é ação. O
produto de uma vida inteira de prática. Ele fica à vontade enquanto
ensina. Uma hora antes, Gracie parecia desconfortável ao tentar
resumir em palavras seu legado e sua última luta, contra o
Parkinson.
Gracie, cujo sobrenome
é sinônimo de jiu-jitsu brasileiro, é uma figura lendária no
mundo dos esportes de combate. Ele reivindica mais de 400 vitórias
não oficiais em todo o mundo, já que domina o esporte desde sua
primeira luta, em 1980.
Mas seu legado está
ligado ao papel de sua família na inserção do jiu-jitsu brasileiro
no zeitgeist mundial. Tudo, desde o Ultimate Fighting Championship
(UFC), de US$ 10 bilhões, até as academias nos shoppings por toda a
América, existe por causa dos Gracies. Nenhum outro lutador ou
atleta lendário é tão responsável pela criação de um esporte
quanto Rickson e a família Gracie, tornando-os não apenas parte do
Monte Rushmore do jiu-jitsu brasileiro, mas também dos arquitetos e
escultores.
Em uma família de
campeões, Rickson Gracie é reverenciado por sua habilidade técnica
incomparável, dedicação e filosofia estóica – sua grandeza
lança uma longa sombra.
Nos seminários de
treinamento que Gracie organizava, ele alinhava faixas-pretas e
lutava com cada um deles, vencendo todos. Mesmo Chuck Norris, que
ajudou a lançar as artes marciais na América, não conseguiu
conviver com Gracie. “Entrei no chão com Rickson Gracie e foi como
se nunca tivesse tido uma lição na minha vida”, disse Norris, uma
lenda e ator das artes marciais, ao site de combate Bloody Elbow.
“Ele brincou comigo.”
O diretor de cinema
brasileiro José Padilha escreveu o prefácio da tradução
brasileira da biografia de Gracie. Ele o comparou a Pelé, o ícone
transcendente do futebol e o atleta brasileiro mais famoso. Pelé foi
o melhor do mundo no que fez.
Gracie é a mesma
coisa.
“Quando você coroa
alguém como o melhor do mundo, comete o erro de ignorar os outros
esportes”, diz Padilha. “Gracie é tão bom quanto Pelé. Não há
diferença. Tipo, quando o Pelé estava jogando ele era dominante. O
melhor jogador em campo. Todos do outro time queriam impedi-lo.
[Gracie] tinha uma relação semelhante com o jiu-jitsu.”
Mas agora Gracie
enfrenta um adversário que sabe que não pode vencer.
Foi há quase três
anos quando ele percebeu pela primeira vez os tremores sutis em sua
mão. Um ano depois, o diagnóstico do seu médico confirmou o pior:
a doença de Parkinson. Muhammad Ali morreu de choque séptico
relacionado ao diagnóstico de Parkinson. Original em inglês,
tradução Google, revisão Hugo. Fonte: RollingStone.