Moss tinha 66 anos e
faleceu devido a complicações provocadas pela doença de Parkinson.
Explorador dedicou grande parte de sua vida à preservação da
natureza no Brasil
Gerard Moss em 2012.
Foto: Evaristo Sá/AFP.
18 de março de 2022
- Morreu, na última quarta-feira (16), o explorador, piloto,
escritor e ambientalista Gérard Moss. Ele tinha 66 anos e faleceu em
decorrência de complicações causadas pelo Parkinson, doença que
enfrentava há vários anos. Moss ficou conhecido mundialmente por
dar a volta ao mundo, por duas vezes, em aviões de pequeno porte,
mas seu legado vai muito além da aviação. O explorador dedicou
grande parte de sua vida à preservação do meio ambiente, tendo
participado de importantes projetos, como o que levou a desvendar os
“rios voadores” da Amazônia.
Nascido na
Inglaterra em 1955 e criado na Suíça, Moss adquiriu nacionalidade
brasileira após escolher fazer do Brasil sua residência principal.
Ele chegou ao país na década de 1980 e se encantou pelo Rio de
Janeiro, onde morou até 2006, quando se mudou para o centro-oeste,
para estar mais perto da Amazônia.
Ele era casado com a
fotógrafa queniana Margi Moss, com quem compartilhou inúmeras
aventuras e expedições, ao longo de 40 anos de união.
Sua primeira grande
expedição foi entre 1989 e 1992, quando completou a primeira volta
ao mundo ao lado de Margi. A segunda volta ao mundo foi feita em
2001.
Em 2003 Gérard Moss
iniciou um projeto para analisar as águas das bacias hidrográficas
brasileiras denominado “Brasil das Águas” (2003-2005). Este
projeto se desdobrou em outros dois: “Sete Rios” e “Rios
Voadores”.
“Sete Rios” teve
início em 2006. Ao longo de dois anos, Moss, sua esposa e outros
pesquisadores realizaram expedições de barco ao longo de sete
grandes rios brasileiros, coletando amostras de água, identificando
riscos e ameaças e, principalmente, trabalhando com as populações
ribeirinhas na conscientização pela preservação.
Foto: Evaristo
Sá/AFP.
O projeto “Rio
Voadores” foi realizado entre 2007 e 2013. Junto com importantes
pesquisadores brasileiros, como José Marengo e Antonio Donato Nobre,
Moss trabalhou incansavelmente para avançar os conhecimentos sobre a
origem do vapor de água transportado pelas massas de ar vindas da
Amazônia, além de quantificar o papel da evapotranspiração da
floresta tropical no regime de chuvas nas regiões mais ao sul. Para
isso, durante o projeto, Moss realizou inúmeros voos, em diferentes
altitudes, coletando amostras.
A ((o))eco, o
cientista José Marengo conta como começou essa parceria:
“Me lembro quando
o conheci, ele tinha feito aquele programa Brasil das Águas,
financiado pela Petrobras, e fiquei muito impressionado com o
trabalho dele nas amostragens de todos os rios. E depois, através do
professor Salati e outros colegas do CENA [Centro de Energia Nuclear
na Agricultura -ESALQ/USP], veio a ideia de fazer isso que ele fazia,
mas com a água atmosférica. Ele era piloto, então ele entendia da
meteorologia, dos ventos, mas não entendia coisas técnicas, como
umidade atmosférica, vapor de água, reciclagem, então começamos a
conversar, eu explicando para ele o que significava os transportes de
umidade do Atlântico, que cruzam a Amazônia, a reciclagem da
floresta […]. Aí, depois de tanto insistir e explicar, saiu assim,
como que rapidamente: “é como um rio voador, você tem muita água,
uma corrente de água na atmosfera, eu sei que você não vê essa
água, porque é vapor, gás, mas se você transforma em água, vai
ser como um rio’. Ele gostou do nome, adotou o nome e criou o
projeto “Rios Voadores”, relata.
Para Marengo, o
legado que Moss deixou para a Ciência é inegável.
“Realmente ele foi
uma pessoa que, mesmo não sendo um cientista, foi um dos que
realmente popularizou os termos como reciclagem, rios voadores na
Amazônia… Eu acho que o legado dele, do professor Salati, nunca
vão ser esquecidos, e são coisas que eu e muitos outros cientistas
mais velhos e mais jovens estão usando comumente”, diz.
Margi Moss também
prestou homenagem ao marido, na qual destacou seu espírito livre e
aventureiro.
“Uma vida muito
bem vivida. O mundo aos seus pés foi bem visitado, o céu para ti
era sempre infinito. A luta em favor do meio-ambiente foi árdua e
contínua. Tive muito, muito privilégio de compartilhar tudo isso
contigo durante uns 40 anos. Você nos deixou prematuramente, após
uma batalha travada com determinação e garra, como era padrão em
tudo o que você fez. Você deixou um buraco imenso que nunca vamos
conseguir preencher. Seu lugar no meu coração é eterno. Segue em
paz, meu amor, nas asas do vento”. Fonte: O Eco.